Moisés Diniz Vassallo, professor do Instituto de Engenharia de Produção e Gestão (IEPG) da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), participou da reunião de negócios da Câmara de Dirigentes Lojistas – CDL Itajubá, nesta quarta-feira (15/05). Na ocasião, apresentou uma visão técnica sobre o panorama econômico nacional e do nosso município.
Ter um vislumbre de aspectos presentes e futuros da economia brasileira e local integra o escopo de trabalho da CDL Itajubá, em especial quanto aos impactos no desenvolvimento dos negócios. Neste sentido, buscando entender melhor a conjuntura econômica, os efeitos dos acontecimentos e as perspectivas futuras, a entidade convidou, pelo segundo ano consecutivo, o professor Moisés Vassallo, que participou da reunião de negócios em 29 de maio de 2023, após a pandemia.
“A CDL Itajubá busca uma visão mais ampla quanto ao cenário econômico nacional e local, pois muitas coisas vêm acontecendo e precisamos nos preparar, seja para possíveis impactos negativos, assim como para novas oportunidades. Tivemos a pandemia, agora temos as guerras e os desastres climáticos. O País está sob novo governo, vemos crescimento de setores produtivos, mas também o aumento da inadimplência. Esses e outros fatores, por vezes contraditórios, geram preocupação com o futuro e precisamos ouvir quem tem conhecimento sobre o assunto”, declara o presidente da CDL, Alexandre Costa Lopes.
CENÁRIO ECONÔMICO BRASIL EM RELAÇÃO AO MUNDO
O professor aponta que houve avanço do atual governo quanto às relações internacionais. Porém, nada expressivo foi feito até o momento. Segundo ele, o que se destaca nesse cenário é compreender como a conjuntura externa afeta o contexto econômico brasileiro.
“O governo vem pressionando o Banco Central (BC) para abaixar a taxa de juros, o que aconteceu pois tinha espaço para tal, fazendo com que a taxa se mantenha em patamares razoáveis. Agora, não teremos mais redução da taxa, pois quem decide isso não é o BC, mas sim o Federal Reserve (Fed), banco central americano. Os Estados Unidos apresentam uma inflação recorde e o Fed está mantendo a taxa de juros alta. Mesmo assim, quem irá investir no Brasil com taxa de 10,5% enquanto os EUA têm taxa de 5,5%? Então, temos uma barreira e a nossa taxa de juros só baixa quando a taxa dos EUA baixar”, expõe Vassallo.
CENÁRIO ECONÔMICO BRASIL – LONGO PRAZO
Nesse aspecto, Moisés Vassallo centrou sua análise nas questões que permeiam o desemprego e a mão de obra qualificada. A taxa de desemprego está relativamente baixa, em torno de 7%, mas segundo ele, nunca chegaremos a zerar essa taxa, devido ao desemprego estrutural que, em economia, significa o descompasso entre empregos disponíveis e os níveis de habilidade dos desempregados.
“É um cenário complicado que irá evitar o crescimento do Brasil, pois há falta de capital de trabalho técnico. A perspectiva não é boa, porque nosso trabalhador não está ganhando produtividade. Nosso ganho de produtividade é vergonhoso em relação ao resto do mundo. Por exemplo, precisamos de 4 brasileiros para gerar a produtividade que 1 coreano gera”, apontou o professor.
A Educação e a Produtividade
Para Vassallo, a Educação é ponto sensível quanto a produtividade. Cita que se vê um grande aumento do número de pessoas com curso superior, mas que os cursos superiores não estão mais entregando ganho de produtividade, como ocorria há 20 anos, isso por diversos fatores, como expansão do número de vagas no ensino superior sem o acompanhamento da qualidade do ensino de base, na educação infantil.
“A nossa educação de base está sucateada. A pessoa entra na universidade, mas a produtividade dele é baixíssima. A qualidade dos alunos do ensino superior é assustadora, com erros básicos, como de concordância verbal. Não adianta ter o melhor computador se o brasileiro não sabe operá-lo. Estamos vivendo no Brasil um sério problema de capacitação de mão de obra e não vamos sair dessa situação a médio e curto prazos. Isso vai segurar o nosso crescimento daqui para frente”, explica o professor, completando que estudantes com bom ensino médio, com potencial, caminham para áreas que o Brasil não tem vocação.
CENÁRIO ECONÔMICO PARA ITAJUBÁ
Para Itajubá, Vassallo destaca dois aspectos impactantes relativamente recentes, sendo um negativo e outro positivo.
Privatização da BR 459
O professor, para demonstrar o aspecto negativo da privatização da BR 459 para a economia do nosso município, fez um comparativo entre Itajubá e Pouso Alegre. Destacou a localização privilegiada da cidade vizinha, às margens da Rodovia Fernão Dias, uma das principais rotas de escoamento de produtos do Sudeste brasileiro, como principal alavanca de desenvolvimento, para a instalação de grandes empresas e atração de mão de obra. Para ele, em relação a esse tipo de crescimento, com a privatização da BR 459, Itajubá ‘morreu’ pelos próximos 30 anos.
“Fica muito difícil Itajubá competir com Pouso Alegre para a instalação de uma indústria. A empresa olha, e pesa a distância de 50 km para chegar a Fernão Dias e circular sua mercadoria. Agora, com uma concessão de 30 anos, pedágio pesado, sem nenhuma possibilidade de duplicação da BR 459, essa perspectiva de atração de indústrias praticamente morreu para Itajubá”, frisa Vassallo.
Parque Científico e Tecnológico de Itajubá (PCTI)
Por outro lado, como perspectiva positiva de desenvolvimento econômico e social, Itajubá tem o PCTI.
“O PCTI é a chance de Itajubá ter um bom respiro. Irá produzir tecnologia e serviço, não circula mercadoria por rodovia, gera ISS, mão de obra de alto nível, alto salário e atende a vocação do município. Temos que olhar o que a gente tem de bom. O PCTI tem uma fila de sete a oito empresas querendo já iniciar obras. Com o Parque, Itajubá vai continuar sendo uma bolha de riqueza dentro do Brasil”, finaliza o professor.
Moisés Diniz Vassallo é itajubense, graduado em economia pela FEA-USP de São Paulo, mestre em engenharia de infraestrutura aeronáutica pelo ITA de São José dos Campos e doutor em teoria econômica também pela FEA-USP. Suas áreas de atuação são economia dos transportes, organização industrial, turismo e análise de impactos econômicos. Já atuou como professor na FEA-USP, ECA-USP e UNIFESP.
Fonte: CDL Itajubá